Os caminhões do Brasil descansavam de tantas idas e vindas, e nossos boiadeiros do asfalto cruzavam os braços nas rodovias. Se antes eram bois e vacas, agora pastoreavam animais mais ferozes, de porte gigante, de rugido vibrante — movidos não por capim nem por água, mas por diesel, como quem bebe cerveja preta. Bois bravos que valem mais que mil cavalos, que mil éguas, que correm mais que mil papa-léguas, mil léguas por dia.

Inspiravam heroísmo no melhor estilo Bino e Pedro: jeans, camisa surrada, cinto de couro e estrada. Quem diria que seriam como os 300 do filme e que bloqueariam quase 200 milhões de brasileiros!? Imprevisível e alarmante como alemães no Maracanã — desde então, todo dia é dia de 7 x 1. Todo dia é dia de 171 em Brasília. Mas o que esperar do país onde Conde Drácula suga seu sangue ao meio-dia? E ainda há quem diga: não há nada a Temer!

Mas aqui é Brasil, porra! Falta menos de um mês pra Copa do Mundo. Vai ter Neymar e tudo — cobertura 24 horas da Globo, no tablet, na sua Philips, no smartphone. Vamos reclamar do quê? A fome de milhões desaparece em segundos a cada jogo. Era o grito e o canto dos canarinhos: “noventa milhões em ação!” Realmente, um belo coro de alienação.

Refletia sobre isso enquanto esperava o almoço: o velho cardápio brasileiro com toque nordestino — feijão-de-corda, arroz, ovo e bisteca. Deu tempo de assistir ao pronunciamento na TV: algo sobre “usar as Forças Armadas” ou coisa do tipo. Mas, como eu disse, nada a Temer.

Foi então que três senhores entraram: calças bege, camisas quadriculadas — meio vermelhas, meio rosadas — sanfonas e chapéu de couro. Sério: trouxeram uma Festa Junina com um mês de antecedência. Por alguns minutos, deu pra fingir que o Brasil não estava ali. Tipo aquela música — O Haiti, lembra? Então… não é aqui.

Parei, ouvi, cantei e aplaudi. Eles tocaram Asa Branca, Dominguinhos e afins… por alguns minutos, lembrei o quanto faz falta um xodó. Mas a realidade bateu à porta e acordei: em terra de mensalão, um bom forró faz bem — mas não dá pra deixar de se perguntar: que país é esse?

Por Velho Marujo

Uma resposta para “As sanfonas de Santana”.

  1. Avatar de Tipos de crônicas – É HORA DE ESCREVER

    […] A crônica dissertativa é escrita em primeira ou terceira pessoa do plural e apresenta uma discussão sobre um tema, trazendo a opinião do autor sobre o tema em questão. Leia As Sanfonas de Santana. […]

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