A gélida paisagem parece ilustrar. Pálida, inerte, fosca. Estampada em cinza, preto, moscas. Entre trancos, bancos, barrancos, barracos.
Parece não mais afrontar ou, quiçá, confrontar. Não! São canecas, cachorros e cobertores; sem talheres, um bocado de homens, mulheres, idosos, jovens, crianças. Odores! E são tantas dores. Mazelas compartilhadas em um suicídio coletivo de sonhos, vidas e cores: favelas.
Hoje são meros rumores de um pretérito imperfeito, moradores do abstrato mundo de concreto escoltados por vigas e pontes. Rumores. Personagens coadjuvantes de um cinema mudo, sem fala, sem malas, apenas um edredom de estrelas e o céu como teto. Surdos! Ah! Quem dera Chaplin ainda se contasse entre os mortais; talvez aos tais dedicaria sua obra-prima, o tal vagabundo. Sujismundos!
Uma tragédia épica que poucos se arriscariam a escrever: a epopeia de heróis e heroínas impopulares e suas histórias fadadas ao olvidamento, sem superpoderes, saberes ou confrarias.
É… Isabel! Eis que, com seu tratado e assinatura, em nada contribuíram para a mudança da estrutura. Dantes serviçais — negros, negras, mulatos, mulatas… — eram pés, mãos, cacau, inchadas; eram correntes, calos, ouro, prata.
Agora, atuais desprezados: esculturas, estátuas sociais. Não ilustres como os Bandeirantes. Não! São a contradição, paisagens do caos, sentenciados ao “Inferno de Dante”. Talvez… Alighieri realmente tenha sido mais profeta do que poeta.
Afinal, na terra onde Jules Rimet furtou os olhares de milhões — e onde milhares sucumbem diante de um lastimável menoscabo inflamado pela escassez de afabilidade — não é de se estranhar saber que até mesmo o calor do Hades não mais aqueça almas e corações.
É… talvez o poeta esteja com plena razão. Talvez, aqui, ninguém vá para o céu!
Por Velho Marujo



Deixe um comentário